O panorama financeiro das famílias brasileiras atingiu um ponto crítico que exige uma visão de contexto urgente e a adoção de instrumentos estruturais. Os dados de outubro da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, e do Mapa da Inadimplência da Serasa traçam um panorama de fragilidade que não pode ser ignorado.
Trata-se de uma crise estrutural que afeta hoje 79,5% das famílias brasileiras, que estão endividadas. Temos um patamar recorde na série histórica: 80,4 milhões de inadimplentes, com uma dívida total que atinge R$ 509 bilhões no país. O valor médio por pessoa inadimplente é de R$ 6.330,16.
Para se ter ideia do impacto disso, 13,2% das famílias endividadas declara não ter condições de pagar suas dívidas em atraso e quase metade desse público está com contas em atraso por mais de 90 dias. O maior contingente de inadimplentes está na faixa etária de 41 a 60 anos (35,4%) e 26 a 40 anos (33,6%).
As principais dívidas por segmento incluem contas básicas, como água e luz (21,6%), e despesas de bancos/cartão de crédito (19,9%), indicando que a dificuldade financeira não está apenas ligada a luxos, mas à sobrevivência.
Temos um cenário complexo que vai muito além do “gastar menos do que se ganha”. Claro que essa é uma premissa essencial para quem quer se organizar financeiramente e estabelecer metas de longo prazo. No entanto, para quem já se encontra endividado, especialmente em um momento em que o patamar de juros no Brasil é elevadíssimo, há um longo caminho que começa por buscar meios de sair da inadimplência para, somente depois, começar a construção de um plano de futuro com maior segurança
Neste contexto, a educação financeira emerge não como uma promessa de riqueza instantânea, mas como uma ferramenta de criação de autonomia e resiliência, essencial para que as famílias possam, de fato, lidar melhor com os desafios do orçamento.
Sair do endividamento exige planejamento
Livrar-se das dívidas, além de disciplina, requer método. O primeiro passo é mapear a dívida não apenas pelo valor total, mas pelo custo real e pela urgência. É preciso identificar as dívidas que possuem os juros mais altos, pois são elas que corroem o orçamento de forma mais rápida. Em geral, cartão de crédito e cheque especial são os maiores vilões.
Atualmente, entre as famílias endividadas, 19,1% já comprometem mais da metade da renda com dívidas, portanto, encerrar as dívidas mais caras é um passo essencial e que começa a ser executado com a renegociação de dívidas.
O planejamento deve envolver:
Priorização: tentar trocar dívidas caras por dívidas mais baratas (portabilidade, crédito consignado se for o caso).
Proposta realista: calcular a parcela máxima que o orçamento suporta sem a volta ao endividamento e só então assinar o acordo de quitação.
Buscar oportunidades de negociação: A Serasa, por exemplo, demonstrou em outubro a concessão de mais de R$ 11,5 bilhões em descontos, com um valor médio de acordo fechado de R$ 807, através do Feirão Serasa Limpa Nome. Isso indica que a renegociação, quando bem orientada, é viável.
Liquidação de dívidas antigas: a renegociação é particularmente importante para os 49,0% das famílias que estão com contas em atraso por mais de 90 dias.
Educação financeira como instrumento para emancipação
No contexto do endividamento das famílias, a educação financeira serve para desmistificar o crédito e fortalecer a disciplina. Não se trata de cortar o cafezinho, mas de entender a diferença entre custos essenciais e custos flexíveis, e criar um orçamento que proteja a capacidade de pagamento das parcelas renegociadas.
A educação financeira de longo prazo entende que o fim da dívida é apenas o início do ciclo de construção de patrimônio em que o investimento é, de fato, o melhor, pois é o único caminho para fazer o dinheiro trabalhar a favor, e não contra.
Reserva de segurança, o primeiro investimento
A construção de uma reserva de emergência é a principal defesa contra novos endividamentos. O motivo que mais leva famílias recém-saídas da dívida a retornar ao ciclo é a ausência de uma rede de segurança para imprevistos (saúde, desemprego, reparos).
Passada a fase do combate às dívidas o ideal é converter o valor que era pago mensalmente nas parcelas para um investimento de alta liquidez e baixo risco (como Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária), até que se acumule de 6 a 12 meses do custo de vida, criando, assim, uma camada de proteção.
Investimento como meio, não como fim
Superada a fase de montar a reserva de segurança, a educação financeira sobe de patamar e passa a orientar o planejamento com propósito. É quando o caminho dos investimentos reposiciona o conceito de juros compostos, que antes trabalhavam a favor dos credores (endividamento), e passam a trabalhar a favor da família.
O foco a partir daqui deve ser destinar um valor mensal a investimentos, priorizando metas estruturais, como educação dos filhos e a segurança financeira da família com investimentos de baixo custo e razoável diversificação.
O caminho a ser percorrido, obviamente, demanda esforço e adaptações não tão simples. Descrever essas etapas de forma resumida e didática é uma tentativa de apresentar uma via de ação que possibilite vislumbrar que, sim, existe uma saída, embora ela não seja tão fácil, em razão sobretudo de todo o contexto econômico e todas as contingências sociais.
Diante, porém, de um cenário em que o endividamento é a regra e o comprometimento da renda é elevado, a educação financeira é o alicerce. Ela fornece o mapa para sair da inadimplência e as ferramentas para nunca mais retornar, transformando o orçamento familiar de campo de batalha em projeto de futuro.
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